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O governo Yeda e A Montanha Mágica

quarta-feira, 24 de dezembro de 2008

Thomas Mann, o grande romancista e humanista alemão, escreveu nos anos que sucederam a Primeira Guerra Mundial, uma de suas maiores obras: “A Montanha Mágica”. Nela, mostra uma Europa dilacerada, desprovida de unidade e distante da possibilidade de construir um projeto social para seu povo. O cenário da narrativa é o alto de uma montanha, num sanatório de uma aldeia suíça em Davos onde, aproximados por suas enfermidades, tipos de todos os credos e raças expõem seus problemas, seus conflitos, seus sofrimentos e suas ilusões, revelando que, mesmo isolados do mundo da planície, continuam a sofrer forte influência do universo lá fora.

É nesse ambiente que surge Hans Castorp, um jovem simpático de origem burguesa, que ao visitar seu primo descobre que também está doente e opta por passar uns dias ali. Na evolução do tratamento, se questiona profundamente diante da vida, ressignificando-a e dando um sentido que a explique e a justifique. Talvez esta grande e extraordinária obra do gênero humano possa servir como metáfora para questões da gestão pública aqui, na planície pampeana. Por mais generosos que pudéssemos ser, o governo gaúcho ingressa na sua metade final com marcas indeléveis: seu caráter é essencialmente conflitivo, seu método desconhece o verbo negociar, seu padrão de gestão é o do desmonte das funções públicas de Estado e de convivência com desvios éticos, sua relação com os movimentos sociais é depositária de forte componente repressiva e, mesmo diante da esmagadora maioria que possui na Assembléia, saiu derrotado em todas as votações centrais deste primeiro período de governo.

"O governo gaúcho ingressa na sua metade final com marcas indeléveis: seu caráter é essencialmente conflitivo, seu método desconhece o verbo negociar, seu padrão de gestão é o do desmonte das funções públicas de Estado e de convivência com desvios éticos, sua relação com os movimentos sociais é depositária de forte componente repressiva."

Será que a jornada do herói Hans Castorp não poderia servir de luz ao Executivo para adotar, de forma propositiva, uma postura mais instigante e de se interrogar acerca do seu padrão de gestão?

Talvez esta atitude lhe permitisse concluir que, no ato de governar, nada existe em si e para si. Mas que a cada gesto público está conjugado um conjunto de ações e reações, as conhecidas pressões e contra-pressões, cujas determinações são resultantes da dinâmica operacional de administrar, imprimida por cada gestor público. De onde decorrem, evidentemente, compromissos e responsabilidades dos representantes para com seus representados. Exigindo também daqueles, antes de mais nada, a necessária e esperada estatura política, para descer da montanha e andar pela planície como forma de melhor se vincular ao solo social original que lhe conferiu tal delegação.

Artigo publicado na Zero Hora de 23/12/2008
Dep. Estadual Adão Villaverde

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